quinta-feira, 13 de novembro de 2008

MACACOS



Quem tem medo do macaco?



publicado em Verdes Trigos
A universidade é um dos lugares menos democráticos do planeta QUEM TEM medo de Darwin? A religião, dirão os mais apressados. E com razão, se pensarmos na obsessão do debate Deus versus Dawkins.A verdade é que na universidade esse problema é menor e esconde uma briga muito mais feroz. A briga com a teologia é menos significativa por duas razões básicas. A primeira razão é que o darwinismo é materialista como as ciências "duras" enquanto a teologia não é, e por isso ela toma de dez a zero.A segunda razão é que a teologia é a louca da casa (vive de favor na universidade, não é ciência nem filosofia), relegada ao lugar de vender Jesus como um bom parceiro em lutas sociais ou um bom amigo quando você está deprimido, por culpa dos próprios teólogos que barateiam Deus. Com exceção da medicina, nenhuma "ciência" deveria se comprometer com a felicidade porque ela sempre fica boba quando faz isso. Explico-me: ou a teologia rompe com a "felicidade" ou ela será sempre ridícula.A briga séria é entre o darwinismo e as teorias que negam qualquer influência biológica definitiva no comportamento humano. Existe um pânico contra a psicologia evolucionista e o macaco no homem e a macaca na mulher. E como a universidade funciona em lobbies, com perseguições e inquisições, facilmente você pode calar alguém se ele ou ela não concordar com você. A universidade é um dos lugares menos democráticos do planeta.Essas teorias que temem o macaco afirmam que tudo no humano é socialmente construído. Obviamente essas teorias acham que salvarão o mundo, construindo seres humanos livres de seus instintos indesejáveis. Dizem elas: dê uma boneca cor de rosa pra meninos e eles crescerão pensando que são Cinderela. Se a boneca for um bebê, o menino terá desejos de amamentar bebês. Se ensinarmos as meninas a bater nos outros, elas serão como Clint Eastwood.Desde a caverna a humanidade está dividida em machos e fêmeas, com variações aqui e ali, e que devem ser respeitadas na sua diversidade. De repente é a "ideologia" que ensina você a "escolher" o sexo. Mentira: ninguém "escolhe" o sexo. A palavra "ideologia" deveria ser acompanhada com frases do tipo "o Ministério da Saúde adverte...". A facilidade com a qual deixamos de falar em "sexo" e passamos a falar em "gênero" (sexualidade construída socialmente) revela a superficialidade da idéia.Qual o problema desse delírio? Por exemplo, ele invade as escolas, e os professores um dia dirão para as crianças que não existem machos e fêmeas na espécie humana e que hábitos morais são "pura invenção".Professores de escolas costumam se viciar em pensamentos da moda. Essas modas pioram as já difíceis relações entre homens e mulheres depois da emancipação feminina. Por exemplo, essas modas dizem aos homens: sejam sensíveis e chorem. O problema é que a sofrida macaca na mulher, assustada ancestralmente com o parto dolorido e arriscado, tende a ser seletiva na vida sexual. De nada serve a ela, nunca serviu, machos que choram. Aí o marido chorão "dança", apesar do "coro do gênero" dizer o contrário. Dizem "tudo bem se o homem for sustentado pela mulher".Imaginemos nossas mulheres ancestrais com barrigas grandes tendo que caçar para homens-macacos preguiçosos. Elas até podem, mas não gostam. Será que por isso a imagem de força, segurança e experiência entusiasmam nossas mulheres normais? Fêmeas promíscuas ficavam mais grávidas e há 100 mil anos isso aumentava o risco de morrer de parto e de carregar crias pesadas.Sexo é fisiologicamente caro para as mulheres e barato para os homens, e isso não é ideológico. Nossas fêmeas inteligentes perceberam isso e "transmitiram essa natureza perspicaz para sua prole feminina". Na savana africana, deveria existir uma luta pelo direito ao pudor.O fato é que ninguém sabe onde começa e termina a relação entre natureza e cultura. Qualquer afirmação nessa área é pura especulação. Um pouco de senso comum ajudaria os profetas da "natureza zero" serem menos delirantes: seria normal imaginar que somos uma mistura de natureza e cultura, coisa que qualquer pessoa comum sabe.O lançamento da coleção de DVDs "Evolução" (ed. Duetto) é boa chance de conhecer o darwinismo sem medo e com bela apresentação visual. Da próxima vez que você for ao zoológico, olhe no olho de um chimpanzé e veja se não parece haver ali uma alma encarcerada como a sua.
Sobre o Autor
Luis Felipe Pondé é filósofo e psicanalista, doutorado em Filosofia pela USP/Universidade de Paris e pós-doutorado em Epistemologia pela Universidade de Tel Aviv. Atuou como professor convidado nas universidades de Marburg (Alemanha) e de Sevilha (Espanha). Atualmente é professor do programa de pós-graduação em Ciências da Religião e do Departamento de Teologia da PUC-SP, da Faculdade de Comunicação da Faap (Fundação Armando Alvares Penteado) e professor convidado da pós-graduação de ensino em ciências da saúde da Universidade Federal de São Paulo e da Casa do Saber.

segunda-feira, 22 de setembro de 2008

Picoterapia Existencial

Introdução

A psicoterapia fenomenológica existencial (PFE), como o próprio nome indica, busca os seus princípios fundamentais nas filosofias fenomenológica e existencial, adaptando-os para a prática psicoterapeutica. De forma reduzida, a componente fenomenológica centra-se nas vivências e nos dados imediatos da consciência, enquanto que a componente existencial investiga sobre a qualidade existencial e as preocupações básicas do Homem, na sua confrontação dialética com o mundo.

Um princípio filosófico chave da PFE é a ênfase colocada na unicidade de cada ser humano, na forma como se relaciona, interpreta e constrói sentido no mundo. Contudo, é também entendido pela fenomenologia existencial que essas mesmas expressões e experiências únicas a cada indivíduo dimanam de um conjunto universal de características, a partir das quais um ser humano pode ser definido como tal. Existir é a forma de ser do ser humano, e cada humano é uma experiência desse existir.

O existir humano é atravessado por três princípios centrais: a inter-relação, a incerteza e a angústia existencial.

O princípio da inter-relação sustenta que todas as nossas reflexões, conhecimentos, percepções e experiências do mundo, dos outros e de nós próprios emergem de uma fundação relacional. Assim, nunca poderemos compreender o homem por si só, em isolamento, mas sempre num contexto inter-relacional de reciprocidade com todos os pontos em que o mundo pode tocar o homem. O Homem é um ser em perpétuo desenvolvimento existencial, reflexivo e experiencial e é na relação com o outro e o mundo, na inter-relação, que se encontra o motor desse desenvolvimento.

O segundo princípio é o da incerteza existencial. É conseqüência do princípio da inter-relação, pois se tudo surge através de uma matriz inter-relacional, é inevitável que se instale incerteza e incompletude em toda e qualquer uma das nossas reflexões, já que nunca se pode determinar autonomamente, com completa e final certeza, o que a outra parte (mundo ou outros) será e, ao mesmo tempo, o que será do próprio, visto que nunca se pode separar daquelas.

“Somos um ser incerto dentro de uma existência aberta de inter-relação” (Spinelli, 2007). O terceiro princípio é a ansiedade existencial. A filosofia fenomenológico-existencial (FE) argumenta que uma das características do ser humano é estar continuamente envolvido no processo de atribuir sentidos e significados, impondo-os a coisas e eventos que experiência relacionalmente. Contudo, os sentidos construídos não deixam de ser um processo incompleto e parcialmente distorcido, uma vez questão sujeitos à ação dos princípios da inter-relação e incerteza existenciais, podendo, a qualquer altura, perder o seu valor. A experiência vivida do mundo impõe-nos sempre a abertura a múltiplas alternativas, o que implica que, mais cedo ou mais tarde, possamos vir a sofrer de alguma forma. A tensão gerada por esta condição expressa-se sob a forma de ansiedade existencial e permeabiliza todas as experiências reflexivas de relação, lançando sobre nós o dilema de como viver com ela. A contribuição de inúmeros filósofos clássicos e contemporâneos de orientação FE não pode ser reduzida a três princípios, mas estes são fundamentais para a PFE, que dispõe assim de um campo fértil para pensar a existência do Homem, um ser que forma uma totalidade essencial com o mundo, sujeito a uma existência governada pela inter-relação que ao mesmo tempo o anula e concretiza, pela necessidade de sentido que o instiga a uma incessante e preocupada procura de respostas e significados, pela liberdade que invoca a autonomia, responsabilidade e autenticidade nas escolhas e pela consciência da morte, que deve inspirar à resolução e implicação com projetos de vida.

Psicoterapia Existencial

O termo psicoterapia existencial não se refere ao tratamento psicológico de uma pessoa ou daquilo que ela é, mas a estar presente, de uma forma disponível e cuidada, quando da reflexão sobre a existência de uma pessoa. Não há intenção de tratar, aconselhar, ensinar ou mudar a pessoa, mas de encorajar o cliente a refletir e pensar profundamente a sua existência, assistindo a um processo de tomada de consciência e compreensão mais essencial e fiel de si mesmo, no seu próprio tempo e mundo, para que a manutenção ou remodelação de uma variedade de aspectos da sua forma de estar partam de um ser livre, autônomo e aberto para consigo mesmo, a sua existência e o seu mundo, sempre dentro do panorama daquilo que o tipo de ser, que o humano é, pode ser. O objetivo é, assim, revelar a existência da pessoa, tornando perceptíveis tanto os seus vícios e enganos, como os seus êxitos e realizações. Atender a inquietações a partir da própria experiência de vida da pessoa, e não de explicações causais, parece providenciar uma compreensão que torna o cliente menos alienado de si de uma forma mais válida e apropriada para com aquelas que são as suas preocupações reais e terrenas, num determinado momento da sua vida.

O psicoterapeuta FE deve, então, assistir o cliente na exploração de quaisquer arranjos de idéias rígidas e inflexíveis, no questionamento de cada uma das camadas de segurança com que a pessoa se revestiu para se defender das condições aparentemente adversas, mas próprias da sua existência, e possibilitar-lhe, se for possível e de sua vontade, a adoção de um si mais verdadeiro a si mesmo, em todo o seu potencial, explicitando como está na vida, como lá chegou e onde poderá querer encontrar-se no futuro.A relação terapêutica que se estabelece entre terapeuta e cliente é assim uma de um encontro humano à maneira humana, uma de descoberta, reciprocidade e sujeição mútua para aquilo que o futuro reserva. Uma em que não há um sujeito investigador e um objeto investigado, mas uma aliança que assenta na cooperação e numa atitude de abertura em que se respeita a relevância das questões levantadas e se mostra empenho em refletir sobre estas mais profundamente.
Nuno Ferrão
Fonte: http://www.nunoferrao.com/index.html

Referências Bibliográficas

Carvalho Teixeira, J. A. (1993). Introdução às abordagens fenomenológica e
existencial em psicopatologia (I): A psicopatologia fenomenológica. In Análise
Psicológica, 11(4), pp. 621-627.

Deurzen-Smith, E. (1997). Everyday Mysteries: Existential Dimensions of
Psychotherapy. London: Routledge.

Groth, M. (1996). Existential Therapy on Heideggerian Principles. In
Journal of the Society for Existential Analysis, 8.1, pp. 57-75.

Spinelli, E. (2007). Practising Existential Psychotherapy: The Relational
World. London: Sage Publications Ltd.

domingo, 7 de setembro de 2008

Como vai você?



(Walmir Monteiro )

Diante da pergunta acima, sua resposta talvez seja um automático “tudo bem”. Sabemos, entretanto, que uma avaliação sincera pode te levar a descobrir um quadro um pouco diferente, com você sendo chamado a definir o “ainda não definido”, a decidir sua vida, seu futuro. Nossa existência se realiza como arte, ela mesma é sua história e sua arte; de sua significação resultam as escolhas que regem nosso futuro. Constatamos que precisamos de coragem e paciência, ousadia e prudência, cuidado e determinação. Mas nem sempre conseguimos sozinhos enfrentar os desafios da vida, e a psicoterapia entra no espaço em que nos convencemos de que temos que fazer algo pelo nosso viver, e nem sempre o podemos sozinhos. Olhando profunda e atentamente para dentro de si você detecta importantes necessidades não atendidas, revelando, afinal, que depois de alguns desejos seguidos de ilusões e decepções – pode ter restado o desânimo de crer, de buscar, de sustentar a esperança de que as coisas possam melhorar.
E a terapia é o tratamento que – entre outras coisas – busca transformar a desesperança em energia de busca, pois a vida - tal qual se vive rotineiramente - nada mais é que uma tentativa de viver da maneira mais “normal” possível, desconsiderando a importância da pessoa em seu aspecto particular e existencial. E, afinal, nossa maior tarefa não é mudar fora, mas dentro de nós. Mesmo os problemas crescendo externamente, a verdadeira mudança começa internamente, na maneira como encaramos as situações e como nos permitimos ser por elas influenciados. Mesmo que não possamos mudar os fatos, podemos mudar a nossa visão dos fatos, alterando nossa maneira de encarar os conflitos, para que eles não nos tornem pessoas amargas e infelizes.
Contudo, é preciso saber como operar essa mudança para que não nos tornemos pessoas problemáticas, mas que possamos crescer amadurecer e até mesmo inverter os resultados que as situações negativas nos trazem. Refletindo mais profundamente acerca da sua vida e das suas possibilidades, certamente você aceitará que não é preciso sofrer tanto para seguir a vida em frente. O que falta talvez seja a experiência de olhar todos os acontecimentos da vida como complementares. Ainda que negativos úteis. Ainda que dolorosos suportáveis. Ainda que tristes plenos de possibilidades. E Talvez este seu momento te leve a dizer: “Eu apenas queria ter um pouco de paz, segurança, tranqüilidade...” Mas, veja: independente de estar triste, deprimido, angustiado, sofrendo decepções ou com medo de arriscar algo, é sempre possível você reagir e superar, e sustentar a possibilidade de transformar sua vivência dolorosa em experiência de crescimento.
O exercício do ofício de psicoterapeuta tem me mostrado que uma das maiores possibilidades da terapia é permitir a descoberta de novos horizontes de vida. Seja, pois, muito bem-vindo à psicoterapia, um tratamento que visa restaurar equilíbrio e bem-estar, possibilitando que a pessoa se afine consigo mesma e com os seus melhores objetivos de vida.

HUMANISMO



O Humanismo é um movimento filosófico surgido no século XV dentro das transformações culturais, sociais, políticas, religiosas e econômicas desencadeadas pelo renascimento.
Com a idéia renascentista de “dignidade do homem”, isto é, o homem está acima da Natureza, o Humanismo coloca o homem no centro do universo e seu estudo merece algumas considerações particulares.
Chegando ao século XVIII, na Filosofia Moderna, o homem é concebido como um ser ativo que domina a Natureza e com isso a sociedade. Embora não haja separação entre Natureza e homem dentro do movimento humanista, o homem é diferenciado dos demais manifestando suas diferenças na racionalidade, na moralidade, na ética, na técnica, nas artes, etc.
No Humanismo o homem, como ser dominante, está em sempre se aperfeiçoando através do desenvolvimento proporcionado pela sua racionalidade.
Mesmo datado de longa data, o Humanismo tem influência em várias áreas das ciências humanas. Sua importância reside na fundamental ruptura entre Igreja e Ciência, carregando consigo uma visão diferenciada do homem em relação aos demais elementos naturais.
Crítica:
É difícil conceber Humanismo devido às várias formas em que ele foi tomado pelas ciências humanas e pelas religiões, vindo a ser “humanismos” com características diferentes. Podemos falar de humanismo religioso, humanismo marxista, humanismo existencialista, etc. No senso comum o termo “humanista” freqüentemente é usado para caracterizar as pessoas que se preocupam com as causas sociais e com a caridade.
Sem dúvidas que o Humanismo foi um dos principais movimentos filosóficos que mudaram os rumos do conhecimento. Mas sua idéia principal e original foi pretenciosa demais.
A idéia de colocar o homem acima de todas as coisas e acreditar que ele é capaz progredir cada vez mais na temporalidade, soa um tanto quanto otimista demais. Daí decorre as dissidências do Humanismo original entre as ciências humanas.
Sartre, filósofo existencialista francês, em sua obra “Existencialismo é um Humanismo”, ironizando o fato do homem atribuir um valor de superioridade a si mesmo, questiona o Humanismo clássico: “Tal humanismo é um absurdo, pois só o cachorro ou o cavalo poderiam emitir um juízo de conjunto sobre o homem e declarar que o homem é admirável.”
Nesse sentido, tomar os pressupostos do Humanismo enquanto verdade seria como dar uma definição a nós mesmos da forma como queremos. A história tem mostrado que nem sempre progredimos; que a razão nem sempre está com a “razão”; e que racionalidade não significa a nossa salvação.
Obs.: o humanismo existencialista se distanciava do humanismo clássico na medida em que o homem não supera sua existência e sua condição se voltar apenas para si mesmo (o centro de todas as coisas), mas sim, procurando o devir sempre no fora de si. E é humanismo porque coloca que o homem é o único responsável de si.

sexta-feira, 5 de setembro de 2008

Solidão


(Paula Gabriela Laini Gonçalves Martins)

Solidão é lava que cobre tudo
Amargura em minha boca
Sorri seus dentes de chumbo
Solidão palavra cravada no coração
Resignado e mudo
No compasso da desilusão
Desilusão, desilusão
Danço eu, dança você
Na dança da solidão
Camélia ficou viúva, Joana se apaixonou
Maria tentou a morte, por causa do seu amor
Meu pai sempre me dizia, meu filho tome cuidado
Quando eu penso no futuro, não esqueço o meu passado
Quando vem a madrugada, meu pensamento vagueia
Corro os dedos na viola, contemplando a lua cheia

Apesar de tudo existe, uma fonte de água pura

Quem beber daquela água não terá mais amargura.


Muitas vezes sinto dificuldade de estar a só comigo mesma. Não consigo viver intensamente minha própria vida. Mas percebo isso acontecendo quando algum fato me faz sentir angústia ou medo da solidão, quando a desilusão chega para colocar barreiras entre a solidão e a independência pessoal, fazendo acreditar até mesmo que o brilho e o encantamento da vida se encontram no outro e não em mim mesma. E sei que esse fato é comum a muitas pessoas, que nós nos esquecemos em vários momentos dolorosos que a vida tem um encantamento, um brilho, algo de especial porque é nossa, apenas nossa. Cada um de nós pode ser uma pessoa especial para si mesmo.
E foi nessa música de Marisa Monte que encontrei as palavras que mais me fizeram refletir sobre o que realmente sinto diante dessa versão da solidão. Dessa versão de solidão!? É isso mesmo! Porque a solidão pode ser vivenciada de várias maneiras, dependendo das pessoas e dos momentos ou situações, dependendo dos fatos.
Mas voltando à musica, é nítida também a esperança traduzida pelas palavras “Apesar de tudo existe, uma fonte de água pura, Quem beber daquela água não terá mais amargura”, e que eu gostaria de expressar, apesar do pessimismo que essa visão de solidão traz.
Enfim, a solidão é própria de cada ser humano e de cada momento, mas é sempre vivida e sentida a flor da pele, é intensa e escancarada, mas não para os outros e sim para nós mesmos.

A minha solidão é sempre intensa e escancarada para mim mesma.

Meu Deus, me dê a coragem
Meu Deus, me dê a coragem de viver trezentos e sessenta e cinco dias e noites, todos vazios de Tua presença. Dê-me a coragem de considerar esse vazio como uma plenitude. Faça com que eu seja a Tua amante humilde, entrelaçada a Ti em êxtase. Faça com que eu possa falar com este vazio tremendo e receber como resposta o amor materno que nutre e embala. Faça com que eu tenha a coragem de Te amar, sem odiar as Tuas ofensas à minha alma e ao meu corpo. Faça com que a solidão não me destrua. Faça com que minha solidão me sirva de companhia. Faça com que eu tenha a coragem de me enfrentar. Faça com que eu saiba ficar com o nada e mesmo assim me sentir como se estivesse plena de tudo. Receba em teus braços meu pecado de pensar.


Solidão – (Clarice Lispector)
Minha força está na solidão
Não tenho medo nem das chuvas tempestivas,
nem das grandes ventanias soltas,
pois eu também sou o escuro da noite.

Existem momentos em que sinto a solidão incorporada a mim mesma e neles a solução não é encontrar uma pessoa ou uma atividade para preencher o vazio existencial, porque não há vazio, meu ser está preenchido pela solidão, e dessa maneira não a encaro como negativa. A solução não é se concentrar em algo para não se sentir sozinho, também não é encontrar uma estratégia para driblar a solidão. A solução é aceitar que se está só, simplesmente isso. E sabendo-se só, viver a própria vida, respeitar a própria vontade, expressar os próprios sentimentos, buscar a realização dos próprios desejos. Quando faço isso, a vida se enche de significado, de um brilho especial, para mim.
Não preciso fingir que a solidão não existe ou procurar a companhia dos outros para que ela realmente não exista, porque mesmo junto com os outros, posso ser solitária. A solidão não é externa a nós, é interna; eu sinto, eu penso solitariamente, eu existo solitária, eu sou solitária. Esses momentos em que me sinto fazendo companhia a mim mesma, conversando e reagindo comigo mesma, são necessários, belos e satisfatórios. Sinto que o que me ocorre de melhor é quando estou só e infiltrada em minha própria solidão, não por achar que somente o ‘ser eu’ me basta, mas por ter a oportunidade assim de ouvir e saber dos desejos que vêm do fundo da alma. É essa a realização pessoal, a prova de que a tendência a estar só remete à minha independência e liberdade como ser humano, de tal forma que isso se torna essencial e incutido em meu próprio ser.
A solidão encarada por esse ângulo torna-se completamente positiva e afirmativa da existência, ela assim é parte integrante dos grandes momentos realmente íntimos de uma vida, é sentida como uma mistura de orgulho e felicidade por mostrar-me o poder e a importância que a minha essência tem para mim mesma.
Nas palavras de Clarisse Lispector, encontrei uma forma clara de expressar minha maneira individual pela qual encaro a solidão em certas situações, a maioria das vezes por sinal. Quando ela diz “eu também sou o escuro da noite”, é como se eu quisesse roubar essa expressão para mim, porque é assim que me sinto também.
Quando digo que sinto a solidão como uma mistura de orgulho e felicidade, é exatamente o que Clarice Lispector mostra em “faça com que eu tenha a coragem de me enfrentar”; pois se estou enfrentando a solidão, aquela que se incorpora a mim, estou tendo a coragem de me ‘suportar’ da maneira mais sutil possível, e isso traz orgulho ao ser, é quase um estado de êxtase.

Quando a solidão não é sofrida e sim natural, traz consigo a maneira suprema de mostrar a mim mesma quem realmente sou e o que realmente tenho. Quando a solidão é sofrida, traz um aprendizado doloroso, a descoberta das fraquezas, a insegurança da carência e o medo de conhecer-me.

E é então com o trecho de uma entrevista de Chico Buarque que quero finalizar o que me propus a dizer sobre solidão, porque foi nele que realmente consegui encontrar meus pensamentos praticamente traduzidos. Porque a real solidão é nossa, não vem dos outros ou das circunstâncias, nasce e existe em nós, em mim.


“Solidão não é a falta de gente para conversar, namorar, passear ou fazer sexo…

Isto é carência!

Solidão não é o sentimento que experimentamos pela ausência de entes queridos que não podem mais voltar…

Isto é saudade!

Solidão não é o retiro voluntário que a gente se impõe, às vezes, para realinhar os pensamentos… Isto é equilíbrio!

Solidão não é o claustro involuntário que o destino nos impõe compulsoriamente…

Isto é um princípio da natureza!

Solidão não é o vazio de gente ao nosso lado…

Isto é circunstância!

Solidão é muito mais do que isto…

Solidão é quando nos perdemos de nós mesmos e procuramos em vão pela nossa alma”
(Chico Buarque)

Nossa cegueira

( DANIELLE MUNDIM DE OLIVEIRA)
“Ensaio sobre a cegueira” é uma obra fascinante escrita pelo autor português José Saramago. Resumidamente, descreveremos sobre o romance escrito por ele. Em uma tranqüila cidade, quando tudo parecia transcorrer bem, de repente, um homem fica cego dentro de seu próprio carro diante de um semáforo. A partir disto, essa cegueira súbita ou “treva branca” começou a espalhar pela cidade. Alertado por um médico oftalmologista, as autoridades sanitárias do governo tomaram providencias para segregarem os sujeitos contaminados em um antigo manicômio desativado sob a custódia de soldados do exército. Cerceados naquele lugar os cegos ficaram reduzidos a condições subumanas de sobrevivência, em meio a péssimas condições de higiene, pessoas mortas e principalmente, quando um grupo de cegos começou a estocar os alimentos destinados aos internos e passaram a comercializá-los na base de troca. Logo, o homem percebe as angustias que o afligem limitadas às necessidades de sobrevivência. A partir de então, a “mulher do médico”, única personagem que não tinha perdido a visão, tomou a iniciativa de matar o líder desse grupo e posteriormente, ateou fogo aos demais membros desse bando provocando a morte deles e um incêndio no prédio. Quando a “mulher do médico” saiu para pedir ajuda aos soldados para apagar o fogo, percebeu que não mais estavam sobre a vigilância desses e mesmo com muito medo avisou aos outros cegos que estavam livres. Então, os cegos conquistaram a liberdade dessas condições degradantes as que estavam submetidos. Ao retornarem a cidade, a “mulher do médico” percebeu que o mundo externo não estava muito diferente do que eles viviam. Havia lixo espalhado por toda parte, pessoas vagando pelas ruas, pessoas mortas, pessoas habitando casas que não eram suas, enfim, o que se via era o mesmo caos vivenciados por eles no local que estavam confinados. Após passarem em algumas casas dos indivíduos que compunham a caravana que era guiada pela “mulher do médico”, esses permaneceram no apartamento do casal até que um dia todos voltaram a enxergar. Podemos dizer que a partir desse instante o grupo recuperou a lucidez, resgatou-se novamente o afeto e o mais importante de tudo é que reconquistaram a condição de seres humanos, uma vez que, estavam quase transformados em animais. O que podemos constatar é que os seres humanos precisaram chegar a essa situação degradante para conhecerem a sua essência e refletirem sobre qual seria seu papel no mundo e na sua própria existência. Saramago instiga o leitor acerca da diferença sutil entre as maneiras de olhar e de ver. O olhar com o significado de percepção visual, uma decorrência física do sentido humano da visão. O ver como uma probabilidade de observação crítica através da apreciação daquilo que nos aparece advindo do exterior.
A maneira como o autor descreve os cegos nos permite perceber uma destituição de identidade, uma vez que, as pessoas em momento algum possuíam nomes próprios que as identificassem. O reconhecimento de cada um deles se dava da seguinte maneira, o “rapazinho estrábico”, a “rapariga de óculos escuros”, o “primeiro cego”, a “mulher do primeiro cego”, o médico, a “mulher do médico”, a “secretária do médico”, muito embora fosse termos generalistas continham algo particular de cada um, ou seja, algo singular de cada um deles. Mediante o que foi exposto acima percebemos que essa supressão de identidade traz em si a necessidade do homem de conhecer a si e ao outro com quem ele se relaciona. A possibilidade de descobrirem quem realmente são, é mais angustiante do que a cegueira em si porque a pessoa terá que reconhecer a sua condição de (des) humana. Mas, também não podemos ser ingênuos a ponto de pensarmos que iremos nos conhecer totalmente, uma vez que o homem vela e se revela o tempo todo. Nós só teremos a compreensão daquilo que nos é possível entender. Sob o enfoque do existencialismo, em que o homem é um eterno vir-a-ser, pois está sempre mudando, fluindo e transformando é que compreendemos por meio dessa desconstrução e construção que ele aprende a se responsabilizar pela sua própria existência. No local em que os cegos estavam sectarizados não era muito diferente porque além de cada indivíduo ter a responsabilidade sobre a própria trajetória existencial também havia essa preocupação com o outro, uma vez que, conviver em comunidade o peso da responsabilidade é maior do que viver sozinho.
Enfim, deixo a minha sugestão de leitura dessa obra magnífica para que o leitor sinta-se convidado a refletir sobre o seu papel e suas responsabilidades no mundo e na própria existência, bem como para voltar-se mais para si mesmo.

Bibliografia
SARAMAGO, José. Ensaio sobre a cegueira. São Paulo, Cia. das Letras, 1995.

quinta-feira, 4 de setembro de 2008

Análise de "A Náusea", de Jean Paul Sartre

Introdução

Em “A Náusea”, Sartre nos mostra Antoine Roquentin, um historiador letrado e viajado, que chega à cidade de Bouville (“boul” indicando “lama” e metaforicamente “impureza”) a fim de escrever a biografia do marquês de Rollebon, figura pitoresca e de excentricidade fascinante, que vivera na cidade durante o século XVIII. Ao iniciar seus trabalhos, logo se desencanta de forma irreversível não só pela biografia, como também pela própria sociedade e condições humanas com as quais se depara em Bouville. Roquentin é, então, acometido por uma (a priori) estranha sensação de aversão ao ser humano e sua condição existencial – a “náusea”. Cercada de um niilismo exacerbado e elucubrações de alta profundidade intelectual, “A Náusea” nos mostra um protagonista despadronizado e repelido pelas próprias contestações que faz a respeito da existência e sua falta de sentido, ou seja, a respeito da gratuidade e ilogicidade da existência, por si só desprovida de essência. Trata-se, portanto, da saga de um personagem conturbado e por vezes beirando a loucura, tal é a nudez existencial a que ele se expõe.

Mecanismos de busca essencial

Como dito, para Antoine Roquentin a existência é gratuita e ilógica e essa constatação por cada um de nós é algo terrível e fora de aceitabilidade. Decorre dessa falta de essência verdadeira uma busca de cada ser humano por sua essência artificial e iludida, havendo, para esse fim, uma série de mecanismos que tornam a existência mais suportável.

Um desses mecanismos próprios de cada um é o que ele chama de “captura do tempo”. Trata-se de uma organização memorial para tornar pequenos fatos, simples existências, marcos de um sentimento aventureiro, fazendo desse “grande” fato um polarizador atrativo dos fatos precedentes, como se esses tivessem levado ao grande fim. Dessa forma, organiza-se a memória humana a partir de fins, na ordem inversa. Esse mecanismo é apontado por Roquentin como uma poderosa instrumentação da mentira, a qual ele mesmo usou sem se dar conta, num ato involuntário de sua própria condição de homem.

Outro mecanismo elucidado pelo protagonista é o mundo do conhecimento e das ciências, criado pelas “grandes mentes” ainda presas em sua busca essencial. Esse mundo, que trata da origem das espécies, da conservação da energia no universo e chega a conferir uma essência “preguiçosa” até às janelas, “com seu índice de refração”, é ilusório e torna o ser humano um conhecedor de seu mundo, um dominador de si mesmo e dos outros, num processo de profunda ilusão. Fazendo uma analogia à alegoria da caverna, de Platão, o homem imagina-se conhecedor de todo um universo, enquanto, na verdade, busca conhecer minuciosamente cada parte (por menor que seja) de sua caverna, sem jamais vislumbrar seu exterior. É mais um engano, sadio para a manutenção da existência.

Um outro mecanismo apontado é o de ordenamento das glórias passadistas pela burguesia acrítica e inábil para a contestação meditativa. Assim, glórias de outras gerações, baseadas no capital e no valor epidérmico do mundo, são relembradas de forma a conferir uma essência, uma lógica, à existência dos burgueses do presente. Esse mecanismo detestável a Roquentin lhe rouba críticas muito contundentes, chamando de “salafrários” a todos os burgueses de Bouville, constituintes desse espécime humano alienado.

Dialogando com Descartes

Da célebre frase “Penso, logo existo”, Sartre, pela voz de Antoine Roquentin, faz um aprofundamento filosófico bem à maneira do Existencialismo, do qual Sartre é figura proeminente. Assim, para o protagonista, a consciência da existência, o sentir-se existir, advém do fato do pensamento, ou seja, à medida que se pensa, sente-se existir. Essa consciência é algo horrível para Roquentin e torna-se ainda pior quando ele constata que a única forma para fugir à existência é fugir ao pensamento. Mas nos perguntamos: como fugir ao pensamento se a necessidade de fuga já é um pensamento, que, como qualquer outro, nos reconduz à existência? Estamos presos, portanto, à existência, pois o caminho do pensamento e a chegada ao sentimento de existir são indesvencilháveis. Eis aí uma bela explicação à referida “náusea”, que intitula a obra, pois quem suportaria estar perfeitamente cônscio de sua prisão sem, ao menos, sentir-se “nauseado”?

Humanismo x Existencialismo

Uma das únicas personagens com quem Antoine Roquentin se relaciona no livro é o Autodidata, um humanista ferrenho que aprendeu grande parte de seu vário conhecimento nos livros da biblioteca municipal, onde trabalha. De orientação filosófica bastante adversa à de Roquentin, ele representa uma personificação do Humanismo. Resulta dos encontros dos dois na biblioteca uma série de discussões de alta profundidade intelectual, num gládio de alto nível entre as duas posturas – a do Humanismo (representada pelo Autodidata, credor das capacidades humanas diferenciais) e a do Existencialismo (representada por Roquentin, niilista, misantrópica e repleta de meditações pessimistas). Após discussões severas, o protagonista Roquentin chega, entretanto, à conclusão de que não vale mais a pena discutir, pois a mente do Autodidata definitivamente não está preparada nem disposta a ouvir seus intricados conceitos, os quais seriam a perdição absoluta de qualquer humanista. Um episódio bastante interessante a ser citado e que ocorre durante um dos encontros dos dois na biblioteca municipal é a morte de uma mosca, esmagada por Roquentin em frente ao Autodidata. Ignorando os pedidos do bibliotecário, Roquentin esmaga a mosca e declara consternado: “Simplesmente libertei-a de sua existência, era um favor a prestar a ela!”. É, sem dúvida, um episódio que deixa bem clara a melancolia advinda do existencialismo sartriano.

Música e Existencialismo

Logo no início da obra, Roquentin é bruscamente retirado de sua incessante náusea por uma composição jazzística de nome “Some of These Days”. A princípio, essa correlação entre alívio e música é bastante misteriosa para o protagonista, mas, aos poucos, ele acaba por entender sua razão. Depois, analisando a atitude daqueles que ele chama de “imbecis”, ou seja, aqueles que vão às salas de concertos buscando o esquecimento dos problemas ou aqueles que buscam superar suas crises com os “Prelúdios de Chopin”, Roquentin conclui que essas pessoas tentam se deixar tocar pela música, como se essa fosse capaz de penetrar os poros do corpo e os vazios da mente, provocando uma mudança de sensações. Na verdade, isso pode ser apontado como mais um mecanismo de esquiva da existência penosa e intratável, de forma que, ao invés de sofrer pura e simplesmente, cada ser humano busca um sofrimento ritmado, melódico, ou como o próprio Roquentin infere: “É preciso sofrer em compasso”. Ele vê-se, portanto, inserido nesse contexto de humanidade, tendo sofrido do mesmo engano que qualquer outro ser humano sofre, ao deixar-se invadir pela música tantas vezes citada “Some of These Days”.

A verdadeira existência

Ao final da obra, após ter reencontrado sua mulher Anny, pela qual ainda pensava nutrir fortes sentimentos, Antoine Roquentin descobre que já não havia entre eles mais nada, exceto a simples repugnância entre quaisquer duas existências, o que o abala extremamente e o leva e abandonar Bouville definitivamente. Antes de partir, entretanto, ele termina por fazer suas reflexões mais escaldantes de toda a obra. Usando de sua ampla visão e conhecimentos, ele divaga sobre o que é a existência definitiva e as relações entre as existências simplórias que encontramos por toda parte, sempre à espreita.

Para ele, por exemplo, a idéia da existência de uma árvore passa a ser gratuita e absurda como qualquer outra existência e o absurdo reside no próprio fato de se existir, isto é, torna-se um absurdo à medida que se existe, pois a existência é desprovida de uma lógica que a fundamente. Já no campo da matemática, uma circunferência encontra em si mesma uma lógica definida e clara – o giro completo de um segmento de reta lhe confere seu fundamento. Logo, o que existe é absurdo exatamente pelo fato de existir e deixa-se o absurdo à medida que se deixa a existência. Também o tempo é visto de uma forma intrigante, sendo nada mais nada menos que a nossa percepção sensitiva da mudança entre duas existências. O tempo, pouco conceituável fisicamente, torna-se filosoficamente algo de simplicidade interessante – entre duas existências e uma observação externa, configura-se a noção de tempo.

Para selar o pessimismo que é detonado a cada página, Roquentin diz ainda que, algum dia, ele vai esbarrar nas ruas com homens cujas línguas estejam transformadas em lacraias e suas feições completamente animalizadas, pois, em sua visão, a igualdade de todas as existências poderia tornar os homens cada vez mais “existentes”, simplesmente “existentes”, como as próprias lacraias o são. O marquês de Rollebon, origem de sua vinda a Bouville, tornara-se, para ele, uma simples fuga de si mesmo, um homem buscando abandonar sua existência e mergulhar na de outro, numa tentativa naturalmente frustrada. Uma das últimas coisas que ele faz em Bouville, antes de tomar seu trem, é sentar-se num banco e observar as existências que o rodeiam, seja a de um lago, a de uma árvore ou a de cada pessoa que ele observa.

Devemos ter em vista, ainda, que “A Náusea” é uma obra que cresceu numa mente inquieta e repleta de conceitos complicadíssimos e, até certo ponto, chocantes – a mente de Sartre. Cresceu também num solo fértil para tais contestações existenciais – um palco beligerante que encaminhava a Segunda Guerra Mundial (iniciada em 1939, um ano após a publicação da obra). Inegavelmente, a obra traz conceitos revolucionários e dissonantes de qualquer forma filosófica precedente, sendo amada por uns e renegada por outros, sem, todavia, perder sua importância no cenário da filosofia do século XX.

Sobre o autor: Marcelo Sobrinho Mendonça, crítico, interessado em expôr uma visão do cotidiano. Publica artigos sobre literatura e filosofia.

Fonte: www.mundodosfilosofos.com.br