sábado, 30 de agosto de 2008

SUBJETIVIDADE HUMANA


Ao dizer que o homem é responsável por si mesmo, o existencialismo transcende a idéia do subjetivismo individualista que os críticos querem imputar-lhe. O homem, no ato de fazer uma escolha, não escolhe somente a si mesmo, mas escolhe toda humanidade. Ou seja: ao escolher o homem que deseja ser, o homem está julgando como todos os homens devem ser. Em outras palavras: o homem está condenado à subjetividade humana. Somos responsáveis por toda humanidade.
Sartre considerava que o homem, ao perceber que sua escolha envolve não apenas a si mesmo, mas toda humanidade e que a responsabilidade dessa escolha é inteiramente sua, se sentirá angustiado. Só o homem de má fé consegue disfarçar a angústia, dissimulando a sua responsabilidade por si e por toda humanidade. Os próprios atos de dissimular e mentir implicam em uma escolha. Ao atribuir a responsabilidade a outrem, estamos escolhendo a mentira não só para a própria existência, como para a de todos os homens. O homem que nega a angústia tem na angústia a sua própria forma de existir.

SARTRE


Sartre não gostava de falar de Existencialismo, ele dizia que “(..) o caráter próprio de uma pesquisa é ser indefinida. Dar-lhe um nome ou defini-la é fechar o círculo: que resta? Um modo finito e já ultrapassado da cultura, algo como uma marca de sabão, ou por outras palavras, uma idéia.” Demonstrando assim uma nitida preferência pelas idéias em movimento do que pela estática das obras ilustres. Porém, este ilustre francês é de fato o maior nome entre os existencialistas, e para muitos, o maior nome da filosofia francesa.
Basicamente, Sartre definiu a existência como precedente à essência, e dessa forma, demonstrou o caráter materialista de sua obra. Em seu pensamento, não haveria espaço para a filosofia que não fosse de certa forma “pela qual a classe ascendente toma consciência de si.” Logo, é difícl separar o pensamento de Sartre de Marx, união tão nítida em muita sobras do autor francês e em muitos dos seus atos em vida.
Não haveria pensamento sem a matéria, e de certa maneria, não haveria compreensão da sua existência

SARTRE FALA DE CAMUS



(Escrito um dia após a morte de camus)
Camus era uma aventura singular de nossa cultura, um movimento cujas fases e cujo termo final tratávamos de compreender. Representava neste século e contra a história, o herdeiro atual dessa longa fila de moralistas cujas obras constituem talvez o que há de mais original nas letras francesas. Seu humanismo obstinado, estreito e puro, austero e sensual, travava um combate duvidoso contra os acontecimentos em massa e disformes deste tempo. Mas, inversamente, pela teimosia de suas repulsas, reafirmava, no coração de nossa época, contra os maquiavélicos, contra o bezerro de ouro do realismo, a existência do fato moral. Era, por assim dizer, esta inquebrantável afirmação. Por pouco que se o lesse ou refletisse a respeito, chocávamos com os valores humanos que ele sustentava em seu punho fechado, pondo em julgamento o ato político.

Inclusive seu silêncio, nestes últimos anos, tinha um aspecto positivo: este cartesiano do absurdo se negava a abandonar o terreno seguro da moralidade e entrar nos incertos caminhos da prática. Nós o adivinhávamos e adivinhávamos também os conflitos que calava, pois a moral, se se a considera, exige e condena juntamente a rebelião. Qualquer coisa que fosse o que Camus tivesse podido fazer ou decidir a sua frente, nunca teria deixado de ser uma das forças principais de nosso campo cultural, nem de representar a sua maneira a história da França e de seu século.

A ordem humana segue sendo só uma desordem; é injusta e precária; nela se mata e se morre de fome; mas pelo menos a fundam, a mantêm e a combatem, os homens. Nessa ordem Camus devia viver: este homem em marcha nos punha entre interrogações, ele mesmo era uma interrogação que procurava sua resposta; vivia no meio de uma longa vida; para nós, para ele, para os homens que fazem com que a ordem reine como para os que a recusam, era importante que Camus saísse do silêncio, que decidisse, que concluísse. Raramente os caracteres de uma obra e as condições do momento histórico exigiram com tanta clareza que um escritor viva.

Para todos os que o amaram há nesta morte um absurdo insuportável. Mas, teremos que aprender a ver esta obra truncada como uma obra total. Na medida mesmo em que o humanismo de Camus contém uma atitude humana frente à morte que havia de surpreendê-lo, na medida em que sua busca orgulhosa e pura da felicidade implicava e reclamava a necessidade desumana de morrer, reconheceremos nesta obra e nesta vida, inseparáveis uma de outra, a tentativa pura e vitoriosa de um homem reconquistando cada instante de sua existência frente à sua morte futura.
JEAN-PAUL SARTRE

Tradução: Jorge Luis Gutiérrez
Revisão: Terezinha Arco e Flexa

ALBERT CAMUS



Em seu esforço para encontrar um sentido para a vida humana sem recorrer ao dogmatismo nem a falsas esperanças, Albert Camus foi muitas vezes mal compreendido mas influenciou decisivamente sua geração intelectual e a seguinte.
Albert Camus nasceu em Mondovi, Argélia, em 7 de novembro de 1913. Com a morte do pai na batalha do Marne, durante a primeira guerra mundial, passou por sérias dificuldades econômicas junto com a família. Conseguiu, no entanto, estudar filosofia na Universidade de Argel e exerceu várias profissões até se formar. Tuberculoso, não pôde trabalhar como professor e resolveu abraçar a carreira literária, que iniciou como jornalista e fundador do Théâtre du Travail. As agruras desses anos se refletem em suas primeiras obras, as coletâneas de ensaios L'Envers et l'endroit (1937; O avesso e o direito) e Noces (1938; Bodas).
Depois de romper com o Partido Comunista, após vários anos de militância, Camus mudou-se em 1940 para Paris, que teve que abandonar ante a invasão alemã. Pouco depois regressou à França e aderiu à resistência, como diretor da revista Combat.
Em plena guerra mundial publicou uma série de obras que tornariam célebre seu nome: o romance L'Étranger (1942; O estrangeiro), o ensaio Le Mythe de Sisyphe (1942; O mito de Sísifo) e duas peças de teatro, Le Malentendu (1944; O mal-entendido) e Calígula (1945). Em todas Camus apresentava uma visão desesperançada e niilista da condição humana, que pode ser resumida nas palavras postas na boca do imperador romano Calígula: "Os homens morrem e não são felizes." A clara e perfeita linguagem de Camus era veículo apropriado para a expressão de suas idéias.
Era difícil, no entanto, conciliar a postura solidária e progressista do combatente da resistência com tal negativismo. Por isso, em suas obras posteriores Camus tendeu a elaborar um pensamento em que o niilismo constituísse "um ponto de partida" para uma sociedade mais livre e humana. Exemplo disso foi o romance La Peste (1947), narrativa simbólica da luta de um médico contra uma epidemia em Oran. Por trás dessa trama simples se percebia, no entanto, a sombra do nazismo e da ocupação alemã, bem como um apelo à dignidade humana. Temática muito semelhante aparece na obra L'État de siège (1948; O estado de sítio). A postura ideológica de Camus aparece com nitidez em L'Homme révolté (1951; O homem revoltado), longo ensaio de caráter metafísico no qual ele analisou a ideologia revolucionária e escreveu palavras reveladoras: "O rebelde rechaça, portanto, a divindade, para compartilhar as lutas e o destino comum." O ensaio, no entanto, não foi bem recebido pelos círculos esquerdistas, que viam nele um pensamento demasiadamente individualista e retórico. Camus, que jamais quis aderir ao existencialismo, rompeu com o líder do movimento, Jean-Paul Sartre, atacando as idéias marxistas deste, que já criticara sutilmente na obra dramática Les Justes (1950; Os justos).
Durante a década de 1950, Camus enfrentou um conflito entre suas idéias progressistas e a explosão da revolução na Argélia, diante da qual, fundamentalmente por razões sentimentais, se colocou do lado da França. Tais contradições internas resultaram em duas obras importantes, o romance La Chute(1956; A queda) e a coletânea de contos -- vários deles situados na Argélia -- L'Exil et le royaume (1957; O exílio e o reino). O mundo que surge em seus contos já não é tão absurdo como o de suas primeiras obras, um inferno caótico e irreal, fruto talvez da sensação de isolamento do autor, que não diminuiria com a conquista do Prêmio Nobel em 1957.
Albert Camus morreu em 4 de janeiro de 1960, num acidente de automóvel perto de Sens, na França. Sua obra, apesar de polêmica e contraditória, constitui uma das grandes realizações da literatura francesa e foi a expressão de um homem que sempre agiu com honestidade em sua busca de justiça.
FONTE: ©Encyclopaedia Britannica do Brasil Publicações Ltda.

SISIFO


Na literatura grega Sísifo foi condenado a empurrar incessantemente uma pedra até o topo de um monte apenas para vê-la rolar até embaixo novamente, uma metáfora dolorosa para muitos trabalhos modernos: fúteis, sem esperança e repetitivos. Camus tenta extrair da lenda homérica as circunstâncias exatas que levaram a este extremo castigo. A lenda declara que Sísifo se rebelou contra os deuses, que ele não os levou a sério e tentou roubar os seus segredos. Outra lenda traz que Sísifo conseguiu prender a morte em cadeias e que foi punido por isto por Plutão. Para Camus, a negativa de Sísifo da morte e dos deuses faz dele o mais absurdo dos heróis, e seu castigo igualmente a maior metáfora para o homem existencial. Para Camus, o momento chave no castigo de Sísifo está naquele instante em que a pedra rola monte abaixo e Sísifo sabe que ele deve ir atrás dela e tentar, em vão como sempre, empurrá-la para o alto do monte e além. Para Camus, este é o momento da consciência adquirida. Cada um de nós deve, em algum momento, vislumbrar o conhecimento e chegar à conclusão de que não importa quão duro a gente trabalhe, estamos fadados a falhar no sentido de que mais cedo ou mais tarde morreremos. Sísifo, como o homem, é rebelde mas incapaz, e é naqueles momentos de consciência que ele consegue transcendência sobre os deuses. No final das contas, Camus vê em Sísifo não a imagem de um trabalho duro contínuo, cansativo e incessante, mas a de um homem alegre que reconhece que seu destino lhe pertence. Ele e somente ele pode determinar a essência da existência. Camus termina seu ensaio com Sísifo no pé do monte, preparado para suportar exercício tortuoso e inútil de rolar a pedra monte acima uma vez mais, mas Camus não vê Sísifo como atormentado, castigado; pelo contrário, ele vê Sísifo feliz.

LEMBREMO-NOS DISSO

MOACIR: arte bruta (arte do inconsciente) trailer


Arte bruta. Excelente ilustração foi inventado para definir a arte por pacientes internados. Pessoas que fazem um tipo de arte que não tem uma influência cultural. Que não se inscreve na cultura e nem estão em contato com o mercado da arte.
ARTE DO INCONSCIENTE. Termo Bruto, no sentido que não é lapidada pela cultura. Revela os símbolos do inconsciente sem censura.
Como no caso do Moacir que produz uma obra de arte extraordinária. Na arte dele o inconsciente está a céu aberto como diria Lacan.
Moacir nunca foi internado, conseguiu se manter bem e bem tolerado pela comunidade... Esse filme ensina que a arte é a forma que ele encontrou para se tratar.
(Dulce Dedino)

quarta-feira, 27 de agosto de 2008

MUITO HUMANA


Outro dia li estes versos de Marly:

Bom é ser árvore, vento:
sua grandeza inconsciente.
E não pensar, não temer.
Ser, apenas. Altamente.

Permanecer uno e sempre
só e alheio à própria sorte.
Com o mesmo rosto tranqüilo
diante da vida ou da morte.


Fiquei pensativa: será???
Acho que não...
Bom mesmo é ser humano.
Sentir lá no fundo da alma as dores e as alegrias.
Ter consciência de si e do mundo.
Ter consciência da vida e da morte.
Experimentar a angustia do humano e suportá-la.
Gemer de dor ante a consciência da nossa pequenez e impotência, mas também chegar ao gozo das pequenas delícias da vida.
Acho bom ser humana.
Não quero ser como árvore, inconsciente para não pensar e não sofrer.
Quero viver e experimentar a perplexidade ante as aporias da minha existência.
O ser humano é assim e assim eu quero ser.
Humana, muito humana....

segunda-feira, 25 de agosto de 2008

ADOECIMENTO


As enfermidades psíquicas são o resultado de uma perturbação da capacidade natural de amar... A condição essencial para curar perturbações psíquicas é o restabelecimento da capacidade natural de amar.
(Wilhelm Reich)

domingo, 24 de agosto de 2008

SER LIVRE

Mas afinal, o que é ser livre?
Dizem que o diabo andava passeando com um amigo quando viu um homem à sua frente abaixar-se para apanhar algo brilhante que faiscava em seu caminho. O homem pôs aquela estrela luminosa em suas mãos, admirou-a por um bom tempo e a colocou junto ao peito. O amigo do diabo, curiosíssimo, cochichou baixinho no ouvido de Satanás: Nossa!!! O que é que é aquilo!?! Que coisa mais linda e brilhante aquele sujeito pegou do chão! O diabo, experiente, respondeu: Aquele homem acabou de encontrar a liberdade ao colocar a luz da verdade em seu coração... Então o amigo do diabo exclamou: Xiiii, mas isso deve ser um péssimo negócio para você! Como vai poder obscurecer a verdade e aprisionar novamente o homem às suas intenções?!? O diabo arqueou as sobrancelhas, deu um sorriso malicioso e disse: Fácil. É só organizá-la em crenças, sistemas e instituições...

Será? Pensemos nisso...